A tarde morta se faz em noite
Sob minhas pegadas errantes
Subleva-se o eterno espanto
De minha solidão devastada
E esta arrogância incendiária
Traz os fósseis de quem fui
A tarde muda sua roupa
como no dia a noite já é
inexplicável descanso, divino
hora de ser anjo, perturbada
choro de soluçar, pular do sofá
perder minha mãe ou crescer
Como renda amarela ao vento
a tarde ruma ao fogo do acaso
A chama intensa chama o pulso
da noite que se achega langorosa
Seu cálice transborda de negrume
e sorvo sem culpa o veneno de sonhar
Deixem que eu acabe de sonhar, Certo é
Que me deito não que durma, Meus olhos
Dormirão sem dúvida, eu não, são minhas
Pálpebras contra as suas, dormirei eu
Acordando no mesmo templo, pela mesma
Sina difusa escarlate, ao tempo
Não sei os deuses nem o céu
esmaga-me a terra
onde me procuro entre as cinzas dos medos
embrião de um ventre renascido
fogo, água, palavra, chão que seria
se nunca tivesse sido.
Na tarde que me veste a poesia aflora
revive os sonhos ao romper da aurora
madrugadas densas, tensas, intensas guerras
uma espera árdua , entre a lua e a terra
entre o sono e a cor, de vestir-se vida
de acolher chegada e não ser despedida.
oh profana tarde que te fizeram?
acorrentada pelos ponteiros de uma bússola vogal
vestida de leve negro,bebes grafite à mesa dos versos
e de repente mescalina noite cai
em folhas papel envelhecidas
substratos de um novo poema
Amanheceu tarde a minha noite,
ainda que me sinta de tarde,
arde uma chuva de estrelas.
D'olhos fechados consigo vê-las,
de olhos abertos sou cobarde.
Palavras cruzadas, velho açoite.
Apenas me resta aqui um verso
triste, perdido, no meio de tantos,
vindo do nada.
A lua acorda desnuda por detrás das nuvens
E o sol é um relógio parado neste
Acovardado tempo chuvoso a passar.
Fósseis de eternas moradas
De coisas fúteis estilhaçadas
Enquanto o astro rei brilhou
O mundo nele se acomodou
O sonho cursou seu caminho
A vida se esvai, de mansinho.