terça-feira, janeiro 12

A genese do amor



Certa vez tentei definir o amor que há em mim e me sobrepuja a razão
Por todos os possíveis desencontros foi o arrepio de uma breve carícia
Que sinalizou que algo indescritível estava por vir, único entre milhões
Todo um estádio de contrassensos quebrados pelo capricho do destino
Agora, contemplo esta cama plena da tua presença destes últimos dias
Relembro que flutuamos entre nuvens distantes do mundo de mazelas
Dançamos ao som dos segredos, cruzamos pontes, túneis e montanhas
Partilhamos tantas aspirações debaixo do vento a nos agitar os cabelos
Paramos o tempo, lá fora da janela, nos saudamos numa taça de vinho
Ouvimos da voz cítrica da chuva mil histórias sobre a brevidade da vida
Por fim, creio saber o que fez o amor: foi de muitos pequenos pedaços
Provindos de infindos surtos e tantas quedas, dum relâmpago delirante
Do pássaro que do alto de seu voo avistou a sombra de cada um de nós
Sobre o azul destes lençóis; ouviu ígneos gritos inauditos, risos rasgados
O coração bate sem pudor de estar se reinventando, cada dia mais vivo
Sim posso assegurar: o amor nega a ausência, a distância e o impossível
O amor surge como um desvio súbito no caminho da vida para a morte
Nos seus dons está a receita que nos diz quando usar sapatos brancos
E roupa estampada para caminhar caminhos floridos à beira do abismo

Um comentário: