terça-feira, fevereiro 7

Recital



Não, não decores este poema, mas recite-o como já fosse teu
Chore ao sentir a dor com que estas letras rasgaram o papel
Se os caminhos traçados afora entre as escarpas à beira mar
Couberem na tua vida, caminha neles ao perfume das tardes
Ignora o vazio que fez o silêncio de um carro que não passou
Mas ouça o barulho da chuva que cai lá longe nas montanhas
Tem algo de música, qual cada verso tem um quê de um blues
O poema não traz outra serventia senão te salvar da mesmice
Abrir a porta da alma para tua imaginação sair sem cerimônia
E sem saber, o todo que senti logo se estabelecerá no teu peito
Entranhado no rol de tuas verdades, tal um aperto no coração
Só o tempo, louco carpinteiro que rouba o verniz dos móveis
E também as nuances coloridas dos cabelos e neles faz o gris
Sabe como faz um coração de poeta bater preso a um só peito
Por isso hoje te trago aqui, leve, livre dos espinhos cotidianos
Em que os fantasmas que me passeiam às tardes ora repousam
Para trocar a angústia da incerteza pela abundância de um não
Liberto da afirmação que sonhar não vai levar a nada mesmo
Sonhar leva a tudo, mais que o permitido, mais que se pediu
A força da chuva é proporcional ao calor do sol, pouco antes
A força da realidade é proporcional à entrega com se sonhou



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