segunda-feira, janeiro 15

Rebeldia



Na linha do horizonte clamam pronomes mudos
Aprendi desde cedo os fundamentos da rebeldia
Nos volumes cinzentos da história de meus pais
A cada golpe fui desconsertando os dias difíceis
Até espalhar nos trigais qual último ato de amor
As mais remotas cinzas de quem partiu tão breve
Muito cedo arribou de nosso barco de esperança
Haverá quem me inquira, dos meus versos tristes
Ínscio quão é difícil ocultar no branco da camisa
O sangue derramado pelo frio do aço, no asfalto
Mas eu, com minha gravata e essa perfeita altivez
Fingi não olhar os escombros onde jaz meu amor
Ouço vivo as sirenes, mas não há o que agradecer
É tudo muito distante e a canção não tocou mais
Foi tanta morte para se carregar sobre os ombros
Que não sei mais o que meus sonhos anunciavam
Decido reagrupar meus trastes, espargir o medo
Prometer dar à minha vida outros nortes e rumos
Até este coração desabitado suspender a solidão
Pois a vida é um corredor onde não há regressos
A justiça não deverá ser só uma palavra no papel
Que se perdeu em mil novecentos e setenta e sete
Mas visto a calça de brim cerro os dentes e resisto
Faço destes versos a minha muralha, o meu abrigo
Perdoar a distância desse silêncio que ecoa em mim
Antes que a noite da vida venha, para me permitir
Tocar uma nova canção, já por tantas vezes adiada


Um comentário:

  1. * Desconsertando = desarranjando, desfazendo o conserto, pondo em desordem.
    Não confundir com desconcertado = que significa perplexo, aturdido e se escreve com "c".

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