sexta-feira, agosto 26

O Grito

Nem sei quem escolheu que minha voz traria este grito

Que minha pena seria a arma que empunho no espírito

Nunca por silêncio, antes pela azáfama para o espanto

De alguns homens entre tantos outros com meu canto

Fazendo-me ensurdecido, portador d’um grito perdido

Quase já não me reconheço diante do espelho partido

Quase esqueci-me que é o vento que revolve as folhas

Entanto aqui dentro a vida revolve as nossas escolhas

Olho a cidade, atento às luzes, ao seu acende e apaga

Assim constato que a dualidade é mais que ideia vaga

Aos pares é que buscam equilíbrios forçados na terra

Alto e baixo, branco e preto, são pretextos de guerra

Dizem que as coisas se dividem só em duas, bem e mal

O grito que trouxe diz que não, que o mundo é plural

Pois bem que olhem, não serão capazes de me devorar

Haverá beijos intocados sob o orvalho secreto pelo ar

Pois se o poema é fogo invisível as palavras são brasas

Ao fim, de todo vestígio, serei mais poema que cinzas



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