quinta-feira, dezembro 7

Persistência

 Na sacada da casa em que vivíamos há tanto a lembrar

O tempo desgasta o que o observa, devora lembranças

E o silêncio reina absoluto nas trilhas de tua ausência

A vida é estrada rústica de pedra sobre pedra e barro

Acima, é a amplidão, o céu que a tormenta se apregoa

Como fosse um áspero telhado que esconde os astros

De onde jorrará raivosa, a água qual um mar de chuva

Se merecermos, a vida seguirá e acercarão os invernos

Um par de janelas e uma quase invisível teia de aranha

Tecida na varanda da casa onde, insone, fazia poemas

La fora, o vento assovia as suas melancólicas canções

Sacode a todas árvores emudecidas de tuas memórias

Que guardam adeuses pendurados em meio aos galhos

São como uns pequenos alfinetes coloridos num mapa

Anotando entre o cheiro da borrasca o rumo a seguir

Na noite enfurecida, derramam-se relâmpagos do céu

Aqui é tudo abismo e a morte já não contrasta a vida

Sigo exilado de teus carinhos, pois te tornaste etérea

Depois disso fui obrigado a seguir fingindo estar vivo

O umedecido e solitário rosto sabe lá quanta tristeza

Que persiste, não em flama, mas numa desnudada luz

Persiste, qual a vela distante, alento que já apagou-se

Persiste, não n’algum vaso ou na arisca gora de chuva

Na luz das tochas que incendeia a mão que a carrega

Persisto, como túmulo sem epitáfio, sem nada a dizer

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