terça-feira, julho 7

Alheamento


Escurece cedo nos dias de inverno sem o rubor próprio do verão
Refegas de uma brisa glacial se entremeiam aos céus enevoados
O cinza abate os contrastes cunhando um mundo bidimensional
Nesses entardeceres ponho-me a refletir sobre as vidas desiguais

Epidemias, fome e sangue e o espírito do mal observa de esquiva
Como se o Deus, enfurecido, chicoteasse frações da humanidade
Noutro lado olhos verdes, muros altos e o terrível cheiro do ouro
O happy-hour principia com a sexta badalada dos sinos da tarde

Elevo meu pensamento acima das nuvens e lá há um cristal azul
Entre as estrelas, na Terra envolta no azul vive um pálido homem
Por curvar a cabeça aos poderosos, não vê o breve voo do pássaro
Nem se quedarem em silêncio os anjos apagados do esquecimento

Onde ficava a floresta, a terra foi desnudada diante do observador
A cada negro anoitecer há mais chão rude de bruta paisagem lunar
As poucas árvores restantes sonham sonhos de tormento e de dor
E o sibilar do vento é como o lamento de uma mãe em luto silente

O poeta canta seus cânticos solitários para as almas angustiadas
Tece no poema um último alento para navegantes desconsolados
Seu verso recompõe os desejos já lassos caídos à beira do abismo
Como se a cólera divina, tal escudo, lhe poupasse quando escreve

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