quinta-feira, julho 2

Crepúsculo de Inverno



As gralhas famintas passam em revoada no vermelho das tardes
Seus bicos em alvoroço rompem o silêncio vespertino destes dias
Meu espírito as observa em contraste com a loucura das cidades

Onde terão repouso à beira do negro pez nestas gauches árvores
Quais folhas cobrem calçadas em que passos se perdem discretos
A vida durante o inverno entra em ritmo de espera pela renovação

A profunda solidão, tormento e dor de lamentosas figuras passadas
Se refaz em suspiros das almas angustiadas, a vaguear sem destino
Carregando escondido o luto silencioso na noite repleta de lágrimas

Nas paredes, nos chãos e muros se espalha o brilho prateado do luar
A socorrer o poeta em seus versos rasgados de cânticos de vingança
Cantados como a cigarra, cantando até ver seu desconsolo exaurido

Ao longe inda há com nostalgia, o pálido repicar dos sinos da tarde
E a puta caminha seminua à margem dos muros indiferente ao frio
Em sua luta desigual pela vida, carregando seus segredos doloridos

O anoitecer alcança os observadores e seus semblantes nas estrelas
Desfilando seus radiantes sonhos purpúreos, entre anjos apagados
E os pés nos caminhos lapidosos das memórias remotas da infância

O som da harpa chega esvanecido entre os vidoeiros ensombrados
Mas seu som delicado escorre alegre sobre as águas em paradoxo
À profundeza do báratro em que deitamos nossa esperança antiga

Meus caminhos são íngremes até aonde os olhos conseguem alçar
Porém deles não lamento, nem dos dias solitários de sono e morte
Hoje sou águia a voar pela eternidade nas asas azuis da melancolia

Nenhum comentário:

Postar um comentário