quarta-feira, abril 6

Quintal



Há muito que perdi o bom senso de acenar cordialmente
De explicar o que minha inteligência resolve conjecturar
Dos mistérios que trato como sendo por demais natural
Mas é assim que te quero, tão simples, creias, nada além
Que venhas sem cerimônia e chegues como a tempestade
Devastadora, para renovar tudo que não faz mais sentido
Com a beleza dos relâmpagos que cintilam azuis da noite
Que sigamos entrelaçados por entre a esperança de viver

Não espero que peças licença a fazer de mim teu escravo
É o que prefiro ao silêncio da solidão que a sombra aflora
Quero cada um de teus gestos, quero cada um sonho teu
Que a alegria seja o nosso lençol sob o céu da primavera
E o poema seja o incêndio interior manifestado no papel
Te relembrar que és totalmente minha, és o quanto basta
E depois de ti já não sou um pássaro abandonado no azul
Pude reaver aquele olhar que um dia abdiquei no espelho

Não te quero batendo pela porta da frente de minha vida
Onde se apresentam os visitantes que nela chegam e vão
Pois teu ser se instalou dentro de mim sem pedir licença
Para estar no quintal de minha vida porquanto eu existir
Comemoro tua chegada, como náufrago ao chegar à terra
Pois que sou teu e cada ausência tua, como adaga me fere
Há muito minha loucura, mea culpa, anseia um sonho real
De te possuir em todos os cantos da casa, de noite ou dia

Venha, a casa será de raízes de paixão e paredes amarelas
Não terá a tristeza nas gavetas entre calcinhas e vestidos
Nem o pânico de nossos passos a se afastar ao fim do dia
Não terás a louca sensação do abandono, espinho da flor
Terás minha voz perpetrada em versos e o melhor de mim
No voo livre das palavras, reformar o caos, parar o tempo
Reinventaremos nosso destino que será escrito no vento
Juntos, até tornar às estrelas, num dia de verão qualquer.

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