quinta-feira, maio 5

Imagens

No que destes olhos abertos o sono não descansa
Paire diante deles as imagens da paisagem ao léu
Lembranças azul-lacunares nos toques desfeitos
Nessa insubmissa revolta para entender o que há
Na cegueira muda que revela um quase abandono
Uma chama que não arde, memórias adormecidas
A caneta que rasga no branco imaculado do papel
É a que risca o poema e que resgata a alma solidão
Cada estrofe inventa um novo sol, um calor macio
Como a seda e que infiltra o som de rio lá da serra
Minha voz rouca tem o timbre surdo dos avessos
Se propaga sedenta à revelia pelas portas abertas
Das perguntas dos que acham saber as respostas
Mas seu equívoco é máscara estampada no rosto
O poeta revolve a vida como quem abre um poço
Ser pássaro não é só voo ainda tem que ser canto
Mesmo que trôpego de soluço, prostrado ao chão
O voar é a ligação das coisas invisíveis às visíveis
É um istmo de terra que se liga ao começo do céu
Por aqui a vida sempre segue, apesar das árvores.

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