sexta-feira, junho 3

Equação Vespertina



Sou o pássaro que marca os céus contra o cinza da tarde
No voo súbito que provém de recriar o traçado da fábula
Compõe suas asas fugitivas para desfazer o caos poético
Na caça da resposta para o conflito surdo dos contrários

Sou a sombra peregrina e muda, cativa do contorno real
Na dobra das palavras omitidas nessa realidade subjetiva
A ventania esboçada na rota oposta do tempo vespertino
O núcleo indevassável da essência emaranhada do poema

Sou a múltipla alquimia da razão entre o fogo e o carvão
Na condição líquida de unidade da pedra anterior ao ser
Por todo o percurso que transmuta a fórmula do existir
Como ponto oculto de sabedoria de cada mente criatura

Sou um surto de realidade a curvar-se ao tempo natural
A verdade só se observa ao abandonar a ilusão da razão
A luz é matriz no labirinto dos versos, antídoto em cor
‘Felix qui portuit rerum cognoscere causas’ diz Virgílio (*)



(*) Versículo 490 do Livro 2 do Georgicas (ano 29 a.C.),
do poeta latino Virgílio (70 a 19 a.C.) e pode ser tra-
duzido para "Feliz daquele que é capaz de conhecer
a causa das coisas".




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