segunda-feira, agosto 21

Ontem e hoje



Hoje eu quis um poema feito de palavras que não são minhas
Que seja escrito de frases colhidas na brisa do que se passou
Dos sinos da velha igreja a brandir nesta manhã de claridade
De um amor plácido que me leve pela mão pelas ruas da vida
Onde, ao som do realejo multicor, consulte a sorte, na praça
Onde a fonte canta e o cheiro doce do jasmim preenche o ar

Mas houve um tempo, para lá destas linhas, tanto divergente
Sentia-me ao chão, à margem da vida, ambicionando desejos
Enquanto chorava lágrimas de sangue à espera daquele ombro
Mas que nunca veio e tingiu a minha pele de negros lamentos
Que pararam meu mundo ainda em pleno giro e na escuridão
Mergulhei fundo naqueles olhos que aproveitaram me afogar

Queria dizer era magia, mas não, mal era um truque de mágica
Hoje vejo claramente a farsa. Por me tirares o prazer de amar
Com sua gris ausência deliberada, que roubava meus desejos
A estraçalhar e sugar meu coração com seus dentes canídeos
Com alívio, ouço que passos já se distanciam além da estrada
Felizmente ela se foi daqui e no íntimo me declarou libertado

E afinal, foi essa distância a luz que trouxe paz neste instante
Então o verso transcendeu-se, renascido vivo no meu âmago
Pois é a poesia o que deve vestir e revestir o íntimo da pessoa
À noite, ando nas calçadas vazias antes pisadas por multidões
Comemoro tua face serena, este relance do paraíso que achei
Dou-te versos nascidos de palavras que não eram de ninguém

Um comentário:

  1. O passado nos faz forte. O presente...um presente. O futuro, só vc escreverá.
    Parabéns. Está se descobrindo!

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