quinta-feira, setembro 14

Soneto




Bem ao longe o perfume dos campos já saúda suas flores
Que hão de chegar com os primeiros laivos da primavera
Há flores que se despem translúcidas diante destes olhos
Para negar o desespero nas curvas dos sonhos renegados

Uma papoula rubra abre-se solitária na margem do poema
Acena lá da borda ao mesmo tempo que ensaia um sorriso
Observa-me e se compadece deste ser lacerado de descaso
Diz que ficaram no passado tantos dias de dor e assombro

De um caos instalado no corpo, arraigado no mais íntimo
Ao cheiro do vento da noite sob mil estrelas que cintilam
Não tardará que em meu peito se instale um soneto ditoso

Que brotou ao fim do abandono, dessa espera consentida
Mansos poentes apresentarão seus pássaros e suas danças
Tudo envelhece, a voz cansa, mas a verdade é sempre nua
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