quarta-feira, setembro 13

Suspiros



Já chega a primavera, mas resta tanto de outono no meu poema
Nele as flores restam adormecidas entre estes versos sem rimas
Uma lembrança bem distante como a chuva, para terra crestada
Não há frutos na árvore, não há brisa ou pôr de sol no horizonte
A esperança uma palavra costurada no peito que sangra no estio
São amplitudes imaginárias dentro do meu ninho de ave errante
São antologias de letras de prata, alinhadas na noite de lua nova

A angústia que sempre invade quando a madrugada se aproxima
Com seus sons de dias idos e seus mortos, injúrias, de muito frio
Para me confortar vejo um retrato teu quando baixo as pálpebras
E o poema se dilui na bruma das linhas desocupadas de palavras
A palavra explode em amorosos fragmentos e escorre como lava
Os verbos refreando a arritmia do coração se me ausento de mim
Nos adjetivos da paixão que trago em meus dedos para te confiar

Quando meus fantasmas se fazem presentes nas noites de insônia
Na tentativa de escrever o poema dos poemas nestas linhas tristes
Levo-te comigo para te amar loucamente entre as estrelas perdidas
Levo-te comigo, apesar de minhas mãos emudecidas e já fatigadas
De todas as vidas em mim que contam dessa minha dor tão latente
Posto que fui feito da poeira espalhada por afetos outrora negados
E na ousadia dos lamentos em tons de azul dos versos emudecidos

Sei que minha aflição, por vezes, alto geme, carregada pelo vento
Serão dores as palavras ou serão amores em letras mal desenhadas
Ou traços da solidão que marcou meu corpo como roseiras bravas
Mas, quando me dispo da razão me olvido de tantas e vãs esperas
Busco-te e tuas ternuras enluaradas ou teus lábios meio ao eclipse
Para, por fim, fazer morada em tua pele alva, teus sorrisos francos
Nos gestos de amar, nos sonhos perfumados, no olhar de mar e luar




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