segunda-feira, novembro 6

Abstracta



Na espera das ilusões reconhecidas, que o vento da tarde resume
Admiro todas as frases que um dia os poemas já ousaram conter
Ouço o caminhar do passo desigual do fauno de contos de fadas
Que com seus olhos afiados exibe a proposta criada em porções
Na noite de lua cheia, o crepitar da parca vela e o sonho alheado
Inertes, se revelam no tempo e acolhem tantas palavras eviternas
À borda da lápide fria, silenciosa e abstrata, qual presa a se agitar
Como um tolo inseto atordoado que procurou a fatal luz brilhante
Duas letras separam a sala da cela, recriando frio e mortal delírio
Onde cairemos nas teias de um par de quadris de ritmo ondulante
A besta disfarçada de anjo que se apresenta irrecusável ao incauto
Ela o deixará paralisado e indefeso com seu doce olhar insaciável
Avança silenciosa e misteriosa, munida de uma astúcia irracional
E convidará à dança proibida neste perturbado mundo cru e irreal
Permitindo que tudo possa ser como nunca nada foi, ontem e hoje
É meu conselho, nesta liberdade a que me atrevo, evites o abismo
Pois lembra-te: as palavras são somente um adereço sem proveito
Quando pronunciadas sem lastro do coração, fonte da lei primeva
Os espíritos rudes não terão assento à margem do cálice supremo
Só restarão as disposições do coração quando a sombra precipitar
Seja o pó amargo, mas sempre haverá linimento, para tantas dores
Violando o silêncio grasnam pássaros selvagens alçados ao vento

Um comentário:

  1. As palavras...haaa... qdo pronunciadas com comiseração, são musicas aos ouvidos.
    Maravilhoso.
    Adorei.

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