O curso do tempo edifica o silêncio paralelo à renúncia
Fruto da anterioridade ao movimento no espaço curvo
Meu existir de pássaro provém do tempo, não do sonho
Provém dos dias de ter exercitado a mais plena solidão
No escuro corredor dos ventos, meus mortos sonham
Sonham sonhos de escuridão ou de lembranças fúteis
Assim como o velho retrato sobre a cômoda clama a si
A memória diária que vai ficando, aos poucos, esvaída
Por estas mórbidas paragens onde os medos se
exibem
Com toda a solenidade do temor que nos petrifica a fé
Os colarinhos de gravatas e mais paramentos simbólicos
Dão o tom dolorido ao frio de cerimônias em desalinho
Foram tantas perdas subvertidas ao longo do caminho
Que geram pensamentos de profusas tramas
solitárias
Que nos sorve as energias como vampiros reinventados
A abrir suas grandes bocas e suas asas tão repugnantes
De tudo que abdiquei as mãos repousam na dor do voo
As feridas que dão a medida perfeita da ficção
da perda
Também fixam os limites entre o transitório e o infinito
Para fazer deste corpo um templo interior onde medito
Busco no verso a ousadia de investir contra a tormenta
De persistir no caminho, ignorar a dor entre as sombras
Abro as asas e me lanço no vazio deslizando pelo vento
Sigo na busca de promover a harmonia entre contrários
Buscando afastar cada vez mais de espinhos e de atritos
Redescubro nos segredos vida o delírio do
pensamento
O tempo recomeça na infinita distância de uma negação
Para recompor a um só entendimento o todo e a unidade
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