Desconheço porque alguns dias se fazem tão ermos e cinzas
O cansaço é mais
que escuro, é negro, assombra nossa mente
Ao longe, a risada
das moças de cintura fina ecoa na calçada
Há uma dor
alarmante no peito, um aperto duro ao cotidiano
Como se caminhasse entre penhascos de subidas
torturantes
Sente-se algumas agulhadas pelo corpo, como neurônios frios
Não há feridas abertas
e a vida flui, porém, está lá a
cicatriz
Velha chaga que não é mais gritante no seu antigo gigantismo
Contudo, ainda estende sua circunferência além da
periferia
Ficou
em um passado quase olvidado,
aquele guerreiro
inglório
Que retornava ferido, meio indigente, de batalhas sangrentas
Com a cabeça pendente,
vertendo lágrimas por tantas perdas
Sem lugar onde
repousar, sem palavras de alento e
sem futuro
Em
vitórias em
que vencer não constituía estar ao menos feliz
Mas houve tua chegada e nova batalha é travada: pelo
tempo
Tão exíguo, tão importante;
por minutos árduos de conquistar
Cada segundo recria em si a pétala de uma flor,
perfume e cor
Deixando-me, no
corpo sem ar, um turbilhão em meu
coração
Preciso te dizer que esse amor tão breve, também é tão
denso
Que todo meu ser te busca, a cada espera, a romper o
silêncio
Com a alma desnudada, os olhos inundados, sorriso de
criança
Desejando quebrar as
vidraças de todos teus receios de amar
Ai estás, face ao
poema, sinto tua pulsação rápida, mas saibas
Sou teu guardião, aquele que curaste todas as feridas e dores
Que elevaste meus olhos além do horizonte breve da angústia
Que jamais vai te ferir e sim zelar. Contigo para rir ou chorar
Que jamais vai te ferir e sim zelar. Contigo para rir ou chorar
De dia te cuidar, à noite seduzir; te fazer
minha como sou teu
Havia um vazio, um abismo insano no qual só o nada germinava
A
brisa soprou afetuosa, devolvendo-me todos verbos do poema
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