terça-feira, maio 18

Noturno 6.6

 Há dentro de mim, um universo de vidas e apenas uma visível

As demais, a quem nego que se manifestem, cada qual pensa

Irrefletidas muitas delas, algumas políticas, outras cientistas

Difíceis de lidar eu sei, será que sei mesmo ou somente creio

Como desculpa de minhas falhas, haverá outro a quem culpar

 

Há dentro de mim essas tantas vidas, tão peculiares, tão iguais

Pouco de mim eu mesmo conheço, mas me quero, tão, lúcido

Estarei sendo duro demais? Outros, normalmente, são assim?

Ah, a quantos de mim renunciei pelo caminho, a cada desilusão

Em cada dia que o sol não brilhou e a chuva caiu inclemente

 

Há dentro de mim, mil vidas que se recusam a desistir e lutam

Tantas vezes preferi não fosse minha a dor invasiva e latente

Seremos, em breve, sessenta e seis almas a tatear pelo futuro

Uma a cada vez que que o calendário gira doze folhas a mais

Chegarei a fazê-lo? Ora penso serão mais e ora penso que não

 

Há dentro de mim, um universo de vidas e apenas uma visível

E por essa é que hei de resistir entre tantas que têm tombado

Estes são dias duros em que temos que nos esquivar do medo

Sem abandona-lo, todavia, pois o inimigo invisível é implacável

Resistir e até ousar, mas sem abusar da confiança imprudente

 

Há dentro de mim, vidas e vidas quais não pretendem se calar

Por vezes já fui pássaro. Asas abertas e, como limite, só o céu

E o desconhecido era aquela flor exótica de fragrâncias raras

Camuflei minhas asas, mas ainda sei voar, há horizontes por aí

Há, ainda, espero, muitas estradas a percorrer, muitas paradas

 

Há dentro de mim, uma vida que enfim encontrou outra vida

Alegra-me não estar só quando o trem partir à última estação

Cada um de mim, enfim tomará seu lugar, sentados às janelas

Tudo se revelará ao longo dessa, que será a maior das viagens

Quando todos nos reconheceremos, cada um afinal é quem é

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