segunda-feira, julho 12

Esferas de Sacrobosco

          Prólogo

O céu da noite é como um negro mar de invisíveis conflitos

Que persistem em seu movimento de arco rumo à luz do dia

O céu que semelha um manto perfurado de brancos pontos

Desperta os sentidos do poeta, que o observa e o descreve

 

          Do amor

O pensamento verte ao amor, que é como o trigo a crescer

No doce contraste da noite com o clímax da fome de amar

Mas não se extingue quando deixa corpos salgados de suor

Pois que caminha pelas sendas paralelas até o nascer do sol

 

          Da andança

O dia reconduz a novos pensamentos, uma ponta de saudade

Cada passo da estrada, cada um, move-se em sua própria luz

Todas as manhãs se reiniciam em sua vigília e faina solitárias

Que se sucedem infindas, numa louca esfera de Sacrobosco

 

          Da luta

Os inimigos escondem suas armas obscuras, sua força oculta

Estende-nos os dedos, mas para fazê-lo prisioneiro nesta vida

Para conter seu surto de vontade, sua força, sua resistência

Para tornar-nos frágeis e roubar o sentido de nossas palavras

 

          Do sonho

A ação se desenrola nas fábulas perpétuas da roda do tempo

Para fazer grandioso um sopro de vida inicial que recebemos

Para eternizar o que fora transitório num único abrir de asas

Receber todo o fogo de ser pássaro, voar rumo ao sol poente

 

          Epílogo

As realidades objetiva e subjetiva vão arar o chão desta terra

O poeta em seus laços com o infinito, traça os versos no papel

Como as margens paralelas de um rio, as sujeitam ao seu curso

Mas alastra, linha a linha, pela geometria própria de quem os lê

 

Um comentário:

  1. É permitido, como sempre o é na poesia, ao leitor encaixar sua própria vida nestes versos, desde que esteja ciente que tudo pode não passar de ilusão...

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