sexta-feira, outubro 22

O amante e a trapezista

 

O tremular dos olhos que antecede à lágrima denuncia

Os dias que uma fina, sutil dor nos assoma e nos rasga

Essa dor de ser nós mesmos, que não dá para disfarçar

Qual a tristeza interior da criança que, no berço chora

A dor faz sentir qual estar de braços dados com o nada

Com vestidos de noite, mas com os gestos suburbanos

Um vapor que paira no horizonte nas horas de sombra

Uma leve força hipotecada que tem o peso do universo

 

A forma da tristeza pode ser apenas um olhar magoado

Ou o riso desbotado de um nostálgico (trágico) mundo

A presença efêmera das palavras que ficaram sem dizer

Uma cantiga de cabaré entoada num afinado fio de voz

 

Ao olhar atento, àquele que interessar vai olhar e sentir

A tristeza e suas expressões têm forma diversa na alma

No silêncio dos quartos vazios, na lucidez das avenidas

Como sentir a vida esvair, gota a gota, no meio do peito

 

 A dor de amar é igual se aventurar sem rede no trapézio


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