quarta-feira, outubro 20

Vício

 

A folha branca sobre a mesa, a brisa sopra pela janela aberta

Trazendo o som do mar, é o início de mais uma noite sem fim

Enquanto olho distraído o dia passar nos telhados da cidade

Não consigo negar és o meu vício, a poção que me envenena

Mas és também o porto onde retornar depois da tempestade

O tempo fica esquecido e teu riso ecoa pelos cantos da casa

Inventas pontos de luz onde só existiam sombras sobre a vida

Onde tu pousas as mãos a mobília ganha vida e suave bálsamo

Mas, enquanto tu não vens, os objetos da casa ficam quietos

Hoje vou me perder na tua geografia, num abraço desmedido

Canto uma canção de lírios azuis para esperar a tua chegada

Com palavras interditas que só ousam pertencer aos amantes

Vou abrir a porta da frente, te receber com uma vogal aberta

Para que o mundo saiba que a dor me aflige se estás distante

Vou falar sem sombra, sem medo, da alegria de quando voltas

Com as palavras de homem suburbano que discorda da norma

Que decide por quantas horas que não me cabe tua presença

Para satisfazer qualquer dos arranjos imperativos do universo

E só por negar a solidão num último gesto, escrevi este poema

 

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