quarta-feira, março 23

Zero

 O coração sofre. Alheio à ambivalência do contexto
Na sua fome dos dias de glória, outrora sobre o zero
Enquanto os ponteiros dançam a sua transcendência
O espaço afora do telúrico ensaia suas discrepâncias

Pelos prados, sou o barro vivo a metamorfosear-me
A seguir inefavelmente dissociado de qualquer eixo
Tal fosse um astronauta a descortinar o jamais visto
Qual se situa nas coordenadas entre o céu e o nada

Para cá, o rio toca a sinfonia da água se esgueirando
Entre as pedras, tudo maquiavelicamente conduzido
De inescrutável forma a causar os tão distintos sons
E o coração não lhes grava a diferença, apenas bate

Mergulha nas águas até crer que vai cessar de bater
Contudo, aflora à superfície solerte às novas perdas
Pois inda guarda os detritos da fé na face insultada
Extáticas memórias, no fragor de gestos de virtude

Ergo-me sobre meus pés, poder herdado desde a luz
Levo meus versos ao vértice na tangente do infinito
Entre pares descubro a mesquinhez e suas tecituras
É um terrível abismo remoto e sempre intransponível

Quando na escala de estrelas, vão se somando zeros
Vendo contingências imponderáveis, ilógicas e irreais
Torno-me impassível e orbito na delícia de perder-me
Desnudado, não maldigo ou abençoo, sou tão-só eu!

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