Areia Movediça
Há dias em que
a solidão parece uma cidade inteira
E sua
arquitetura a companhia de estranhos signos
Rostos mudos
entre as árvores ou nas constelações
Num reino de
pedras e ossos, que não nos pertence
Onde um amor é
símbolo de teoremas indecifráveis
Uma música
orquestrada, composta em clave de fá
É nesse
cenário que busco por teus rastros ocultos
Estranhos
amantes, reunidos por um pacto secreto
O ar de sal do
mar é a bruma que turva a paisagem
E o sol
adventício que raiou na fronteira do sonho
Pisa as areias
movediças da incerteza e do espanto
O pó bate em
minha face, as flores turvas e débeis
Exibem no
verde de sua raiz, o paradoxo cotidiano
As flores
cantam em meu delírio, metais preciosos
Somos onda, pó
brilhante, areia e mar enamorados
E o coro da
morte nos oferece o indesejado cálice
Protagonizo
meu próprio drama, a plena liberdade
A palavra arde
na língua e é folha de veludo suave
Esplêndida e
atroz é um amor que, voraz, espreita
Espirais
secretas, memórias, o rumor d’uma fábula
O rito do
pêndulo que repete, instante a instante
É o tempo a
maior fábula, a ilusão em nosso sonho
Somos hospedes
do tempo ou os seus prisioneiros?
De semente a
árvore, somos os condenados do ser
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