segunda-feira, setembro 25

Areia Movediça

Há dias em que a solidão parece uma cidade inteira

E sua arquitetura a companhia de estranhos signos

Rostos mudos entre as árvores ou nas constelações

Num reino de pedras e ossos, que não nos pertence

Onde um amor é símbolo de teoremas indecifráveis

Uma música orquestrada, composta em clave de fá

É nesse cenário que busco por teus rastros ocultos

Estranhos amantes, reunidos por um pacto secreto

 

O ar de sal do mar é a bruma que turva a paisagem

E o sol adventício que raiou na fronteira do sonho

Pisa as areias movediças da incerteza e do espanto

O pó bate em minha face, as flores turvas e débeis

Exibem no verde de sua raiz, o paradoxo cotidiano

As flores cantam em meu delírio, metais preciosos

Somos onda, pó brilhante, areia e mar enamorados

E o coro da morte nos oferece o indesejado cálice

 

Protagonizo meu próprio drama, a plena liberdade

A palavra arde na língua e é folha de veludo suave

Esplêndida e atroz é um amor que, voraz, espreita

Espirais secretas, memórias, o rumor d’uma fábula

O rito do pêndulo que repete, instante a instante

É o tempo a maior fábula, a ilusão em nosso sonho

Somos hospedes do tempo ou os seus prisioneiros?

De semente a árvore, somos os condenados do ser

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