quinta-feira, abril 18

Lembro

Lembro de tudo, como se o tempo tivesse parado
Toda a quietude do jardim tem o som d’um templo
Uma atmosfera um tanto ingênua sob tíbias folhas
Na imagem mais cara da memória em traços finos
Deusa de olhos levemente orlados de sombra azul
Como os teus, agudos, inquisidores e perspicazes
No silente mármore gravado em suavidade sedosa
 
Dizem que todos, um dia desses, virão a esquecer
Mas só nós caminhamos nas alamedas de gerânios
Conversas abertas sem jogos vertiam um perfume
Ontem quando escrevia, ouvi um pardal na janela
E por nada, logo voou pra perto das amendoeiras
Tal como tu fazias nas margens lentas dos ocasos
Pois sei que no espelho não há palavra tão bonita
 
Lembro de tudo, para ser trivial, tal fosse ontem
Desde que ouvi a suavidade maciez de teu canto
Do tato e das centelhas que saltam com o toque
Dessa tatuagem de traços limpos nunca estática
Como nunca vós, incultos, podíeis imaginar fosse
Esses teus lábios de amoras, tersos, tão queridos
Mas que, cruel destino, nunca me permiti provar
 
Quiçá o tempo me force a perder umas migalhas
Mas não quão desafiamos as profecias zodiacais
Juntando-nos tal qual nunca seria para se juntar
Lembro até quando a cidade parecia uma aldeia
Onde podíamos caminhar sem medo e sem rumo
Lembro de seu corpo monumento, de seu hálito
Eu lembrarei de tudo mesmo se o silêncio chegar
 
Por prazer escrevo este poema, palavras que não
preciso escrever, pois jamais me esquecerei de ti

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