sexta-feira, abril 26

Peixe

 Procuro-te como o peixe que nada em seu aquário de desejo
A te buscar na água turva de dores de tantos outros verões
Dor que só tu apaziguas nesta instância de abismos e trevas
Por onde sigo, sonâmbulo e ferido entre a crueza das cinzas
Na lembrança de tempos mais augustos que tocava tua mão
No ardor da ilusão há a fria voz que, indiferente, me chama
Mente como se a eternidade fosse cicatrizar a ferida aberta
Na neblina de tua ausência, na nostalgia cinza de teus olhos
As reminiscências de outra vida se espalham pela penumbra
No oceano da distância é tudo tão mais agreste e profundo
O equinócio de vida e morte se reflete pelos espelhos rotos
Sob a luz boreal que esconde o tesouro d’um amor perfeito
O sol fugidio resvala pelas águas do mar, entre as palmeiras
Minh ’alma avança rumo ao arrebol entre ruas que dormem 
Cheias de frutos maduros dependurados no esquecimento
Enquanto oro por salvação na transparência deste silêncio
Meus eclipses se erguem diante de brancos altares sitiados
As respostas negam as perguntas do vento soprando do sul
Nem assim movem uma única folha entre ramos acobreados
E o que resta é sonhar com os movimentos de tua chegada
A cadência exata de tuas pernas, o cliquear de teus passos
Pergunto por ti aos anjos que encontrei na porta principal
E me disseram que o que importa, é o caminho percorrido!


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