quinta-feira, maio 14

Camisa de Flanela



As tardes de maio entoam chuvas e ventos tardios
Tecendo a paisagem de dias de outono inimaginado
A memória não encontra igual em tempos passados
Onde estão os céus claros e frios da minha infância

Com um suspiro recordo a camisa de flanela xadrez
Que revejo quando o sonho e a nostalgia me visitam
Imagens recompostas de um tempo sem tormentas,
De comerciais preto e branco na tela das televisões

Será a realidade nada mais do que um sonho ao vivo
Brotarão ainda os lírios nos encostas das montanhas
A voz do poeta se mistura ao murmúrio do cotidiano
Soma letra após letra lustradas pelo ardil do desejo

O tempo trafega como vertigem entre meus passos
Traçando um caminho em desalinho em meio à poeira
Será que vai de encontro à usina secreta dos poemas
Ou leva apenas a uma esquecida e antiga caixa postal

Da janela vejo esse trânsito moderno e desordenado
Sinal da declarada realidade onde os poetas flutuam
Em novos mapas de líquido que se derramam do olhos
Cada palavra do poema é um feitiço recriando a ilusão

Nenhum comentário:

Postar um comentário