quinta-feira, junho 4

Reflexões




O sol se arrasta lentamente para o ocaso
Aos poucos vão sumindo todos vestígios
Do astro repleno de brilho e de seu calor
E o frio outonal toma conta do anoitecer

O poeta como retrato que ninguém olha
É espelho anônimo num canto do quarto
Na mesma labuta inglória na estrada fria
Acolhe o poema como o dorso de mulher

Articular o verbo para construir o verso
Liberto das muralhas da incompreensão
Esmerilhando com sua própria natureza
Frases forjadas de labaredas insubmissas

As palavras em semitom deitam ao papel
Filtrando cada nuança de sua incidência
Traduzindo os segredos oblíquos em luz
Refletindo nas páginas o sonho absorto

Rompendo os parâmetros antes impostos
Reinventa na dor da ausência uma sombra
A musa e sua boca exata em todas curvas
De trigais dourados nos cabelos ao vento

O verso é bálsamo que inebria os sentidos
Traça leves passos e flutua imperceptível
E também caminha denso e rude na noite
Por ter no íntimo as contradições do amor

Na lida das figuras sonâmbulas e cativas
Dos que escondem a vida numa máscara
A palavra gravada em metal é o antídoto
Em meio à quietude amarga da falsidade

Por todas as noites de insônia e assombro
O verso dá a medida da sina dos insubmissos
Viajantes do espaço, tempo e movimento
O poema é a um só tempo a terra e o vinho

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