terça-feira, junho 16

Repaginando



Minha vida hoje é tal um regato de águas negras que viajam ao mar
Antes tímidas aves nele se saciavam, hoje tudo é medo e serpentes
Jamais doces pássaros de bicos assustados com seu canto matinal
Eis-me perdido, calado pela brisa da morte que soprou meu coração
O rosto empedernido demudado na decepção desta triste existência
No silêncio amargo das noites frias a chuva desenha linhas na janela
E refletindo-se no vidro, as lagrimas desenham meu rosto sonâmbulo
A boca muda balbucia líquidas vogais de um verso prisioneiro da dor
Todo encanto se foi, a música, os perfumes das flores, as primaveras
Há um vazio dourado de promessas imêmores na minha mão esquerda
Vi remotas palavras de amor se decomporem na sombra do frio metal
Espalhando negrume como um espectro alado a silenciar as imagens
Vi o grito de socorro acorrentado no fundo da garganta, vi a solidão
As cinzas do pássaro, outrora a fênix, já espargidas jamais renascerão
Para repaginar, cubro-me com o manto da poesia, esqueço que morri.

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