sábado, julho 9

Caminhos



Se passou outro mês julho chegou com suas promessas
O poema emerge vivo na noite, surge, sem pedir licença
Subitamente reconheço teu abraço, enigmas e acalanto
Escuto tua voz-sussurro oculta sob as tábuas da escada
Então o ar rescende ao teu perfume de lavanda e jasmim
Qual as últimas folhas do outono sopradas pelo inverno
Vejo doces imagens desenhadas nos matizes do arco-íris
Os segredos de lúcidos instantes detêm-se na memória
Então componho estes versos entre auroras atemporais
Até sei que às vezes escrevo poemas um tanto amargos
Mas é da lágrima desesperadamente pequena na pupila
Ou é como o grão de areia que ultraja no canto da boca
Tudo isto se constituiu há milhares de dias de distância
Mas hoje somos o clarão da esperança no meio da noite
Já vivemos imersos em tempos de caminhos de chumbo
Sofremos na alma dores que vieram de um vento alheio
Adentro de uma densa ausência filha do medo e solidão
Mas o destino ainda nos reservaria surpresas no tempo.
Que à revelia de desencontros, despedidas e abandonos
Um dia renasceu na energia sutil um sentimento antigo
Real, fotográfico, que andava escondido no subterrâneo
Não te quero só para possuir o teu corpo, eis que te amo
Não é por isso que te quero ver, apenas por tua matéria
Ambiciono habitar a tua alma e em ti quedar-me eterno
Estar em teus pensamentos, por trás de cada sorriso teu
Estar na brisa que teus suspiros causam no ar da tarde
Quero ser um caleidoscópio de possibilidades no teu dia
Mesmo que nossos corpos não sigam caminhos comuns
Seguiremos juntos pelas alamedas fechadas dos sonhos
Muito além de todas as intempéries que possam formar
Isentos dos tristes tempos dos relógios destas latitudes
E se nossos passos não caminharem no mesmo compasso
Na poeira da espera, rubra de espanto, dançaremos no ar

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