sábado, janeiro 7

Divergente



Meu poema tem o dom de tornar-me alado
Para voar além dos limites do horizonte real
Livre do rigor do andar que submete o passo
E dos caminhos pré-traçados que herdamos
Não negarei que o poema é algo de solitário
Quando se nega à submissão da regra usual
De nadar em cardume e trotear em manada
Quando se abdica de ser parte da geometria
E ter medida no traço da pena sobre o papel
Porque o verso não pode assim ser limitado
No poema reside o eco da palavra inaudível
Que desaltera o vazio e se manifesta em cor
Replica a sombra do visível contra o abismo
Encadeia o vácuo das paixões, ora ausentes
A sombra, o vazio e a ausência são a inércia
São o avesso exato e a negação do vocábulo
Há nos escritos um rosto cercado de silêncio
Há dentes emoldurados por lábios que riem
A boca que murmura, fala e grita non sense
Pensamentos ao vento calados e sem rumo
O poema é a porta aberta, a cerca viva baixa
É a brisa que alisa o gramado na tarde de sol

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