segunda-feira, janeiro 9

Idas e Vindas



Há dias que o silêncio preenche as múltiplas horas ausentes de prazer
Dias que entre a aurora e o ocaso só há companhia das tábuas do chão
A profunda nostalgia que lavra a poesia amarga na página entreaberta
Dias de corpos separados, perdidos em caminhos sem qualquer beleza

Contemplo a janela e a rua lá fora é deserta e invariável em sua aridez
Nascem estranhos presságios e o pássaro já não canta antigas alegrias
Canta o medo das solidões, das perguntas irrespondidas, da despedida
Abro a porta e tudo é igual, ligo a luz, mas permanece a mesma mudez

Será que o silêncio nasce talvez de meus gestos de recônditos segredos
Quem sabe, de minhas alegrias recolhidas e de meus medos arraigados
Uma treva sem trégua, uma face perdida ou asilada, renegada ou aceita
Tão ensimesmada vai reencontrar-se na sombra da qual se desprendeu

Este voo sem som e sem cor, que lhe sobressalta a incerteza de chegar
Preso no ar pelas mão do olvido, calado de assombro. Que versos traz?
Que letras multiplica a compor em um segundo o sentido da existência
Como uma eletricidade que de súbito invadiu o corpo, a tudo clareasse

Mas as respostas não surgem de alguns momentos obscuros à meia luz
Vêm da memória de sensações felizes, do brilho de outrora, da paixão
Em que de um transe me reinvente livre e solto no espaço sem limites
Para romper em luz, trespassando as trevas, abrir a página sem receios

No cabelo a voar em desalinho, a estrema de uma ausência e uma falta
Mas há a certeza de um breve retorno, de tê-la novamente ao alcance
Avançar rumo a seus lábios, desatar o nó na garganta e parar o tempo
Hastear as bandeiras, calar o pranto, acordar o canto e somente sorrir.

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