sexta-feira, janeiro 27

Desencanto



Hoje me vejo cheio de frases inacabadas como que ceifadas
Talhadas pela navalha do silêncio nas cicatrizes do poema
Dói-me o vazio do desencanto a inspirar amargas lágrimas
Desço os degraus dos sonhos entre encarnados horizontes
O tórrido calor do estio abdicou a abundantes frentes frias
E o cinza assume em lugar do azul onde o pássaro já se foi
O tempo constata atônito suas próprias voltas se não vens
Não vês que é tua vinda que recompõe o viço da primavera
Nem compreendes que é essa ausência que vem a me ferir
Porque será árdua a percepção do conceito de querer bem
E trazer nos suspiros espalhados meio a minha inspiração
O anseio de semear as carícias, de plantar sonhos surreais
Aspirando ao tempo de colhê-los entre as flores do campo
E saborear, paciente, meio às alamedas nas noites de amor
São quatro as estações que o coração solitário experimenta
Secretamente em único momento, detrás de um semblante
Ocultas sob as estrelas quais distantes candeias luminosas
Nas fantasias destes escritos falazes, desprovidos de dores
A retratar ideias desvairadas como num quadro inacabado
Imagens em mil cores desfeitas de uma alegria inexplicada
Respiro as memórias, presente que resgato, reais ou irreais
Quando eu venha a despertar em um tempo ainda distante
Que o mal transmute em bem, na realidade que me lembro
Que a ciência do que era irreal, assim, enfim se torne vida

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