terça-feira, março 7

Memórias Gramaticais



Cai a chuva cotidiana no final de tarde, os transeuntes vão e vem
Correm a se esquivar das gotas brutais ocupando ruas e calçadas
São sombras sob a chuva enquanto traço estas linhas desabridas
Coletadas dentre a mais crua realidade de memórias gramaticais
Refeitas da antologia mera de palavras ditas quase em desespero
Caídas de uma boca que se abre mais como gesto que como grito
E não há revelação a transcendermos, no fim só nos resta soluçar
Abatidos seguimos adiante carregando uma réstia de lembranças
Parcos frutos de uma consciência degredada, uma ilusão de ótica
Levante a voz, não sejamos um eco hesitante do que fomos ontem
Até exaustos, impende ter em mente muito mais que conjecturas
A noite se adensa, as nuvens se desfazem no reflexo prata do luar
A luz flava do poste se dissipa em sussurros sobre o negro asfalto
O letreiro em neon nos dá um infido conceito de vã modernidade
Continuamos presos em murmúrios às máscaras da conveniência
No espelho da verdade somos só fantasmas em nosso próprio eu
Aguardando que desça sobre nós o mármore infinito e o silêncio
À sombra da velha árvore há ecos áridos trespassados pelo tempo
Apesar do voo dos pássaros e das nuvens a alma não se fez serena
O rosto refletido nas côdeas da aurora mostra uma efígie infernal
Na infinita ousadia de aspirar transcender à inefável imortalidade
Traz o signo de ícones ancestrais e lhe pulsa um indefesso coração

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