sexta-feira, março 31

Paladino



O que se fez daquele garoto loiro visto a singrar num barco ébrio
Embarcado sem saída numa existência trágica, quiçá um exilado
Quiçá seduzido por antigas vozes imêmores nas voltas do tempo
Paladino das palavras a avançar pelas noites desenhando poemas
O poeta a traduzir e inventar alquimias coloridas do vocabulário
Sem ter conta do tempo passado a quem é tão-só uma tribulação
No mister de agregar letras feitas de anseios qual cativar estrelas
Para romper os desvãos do silêncio nas primevas tardes outonais
O caos que cala os ouvidos, restando apenas vozes em monólogo
Vejo os egos do cotidiano a exibir sua linda amante e não a amam
Nem ao menos lhe fazem amor pois vivem de apologias e delírios
O poeta não fabrica versos, é antes artesão a burilar os vocábulos
Nesse trato artesanal alforria os sonhos aprisionados nas mentes
Na varanda, à cadeira de balanço a poesia está além do horizonte
Para transmutar em luz o conceito de infinito e segui-la ao longe
Sobre a imensidão do mar e sentir a saudade do que nunca se viu
Entre a manhã que já se avizinha e a noite que sussurra mistérios
Há um hiato no tempo, um som de violino, horas se tardam advir
A aurora em confessa delicadeza vai testemunhar das entrelinhas
O dever que, ainda na sombra do vazio, ousemos adentrar o eterno

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