sexta-feira, março 17

O Labitinto



O que fazer se por trás do teu melhor sorriso impostado
Nessa armadura fria em que te escondes, nada se aquieta
Esse aperto no peito, ou o nó na garganta que não desfaz

O que fazer do alto das tuas fidúcias se quando dás conta
A tempestade se foi, mas restou o som amargo do trovão
Porque talhamos signos para perpetuar no negro mármore

Tudo parece nos desafiar e abdicamos da aptidão de sentir
Sempre lutaremos contra os sentimentos que nos habitam
Então teremos apenas abismos esmagadores à nossa volta

Nas estradas da vida, retas ou sinuosas, na ânsia de chegar
Quando nada nos realiza na tentativa de permanecer em pé
Nos vemos diante de um labirinto de paredes negras e altas

Na praça central as palavras encenam um estranho festival
Singelas, entremeiam o silêncio e murmúrio antes ocultado
Atrás das máscaras desse cerimonial, faces se decompõem

Lúcidas. Na rotina angustiante, somos prisioneiros na alma
Não distinguimos que nos está incrustado o anjo e o pecado
O paradoxo de trair para ser fiel, estranho mundo de formas

Os sentimentos humanos têm parâmetro num autorretrato
Algo mais singular ativa o disparador e é tão logo rejeitado
Nos campos desnudos já não brilha o amarelo dos girassóis

Como me ouvir, creio, se me ouvir é a desfiguração do ego
No sol do meio-dia, sob as farsas e intrigas, é só caricatura
A fórmula esquizofrênica mimetiza uma abissal voz alheia

Como crianças confusas pela sua ingenuidade, usualmente
Procuramos a resposta sempre nos outros, sem a encontrar
Quando é obvio que as respostas e perguntas estão em nós

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