Outra noite brotou
de um pesadelo, a imagem que eu mais quero esquecer
Na alma trêmula e vazia de pensamentos estava a velha mansão da ladeira
Afundado em lágrimas de tristeza olhava aquela imagem virginal e estelar
Olhar seu
vestido branco, imaculado, espectral era um profundo mal-estar
Um medo dantesco
da solidão infeliz que se antevia
abrir todos os infernos
Por isso menti
e impostei sorrisos, camuflando consternado
o esgotamento
Nisso errei
também, calei em meu estupor, pois não sei indagar por perdão
Sem ter zênite
por muito tempo arrastei essa nodoa torpe em
meu coração
Porém o tempo
a tudo apazigua e fiz sacudir a velha fuligem da roupa suja
Gradualmente a
dura imagem me foi abandonando num despertar efêmero
Vieram novos
ventos e marés fortes, pensamentos ao invés de sentimentos
Pessoas feitas
de pedra, ideia maquinal, ah como me intoxica o mar estéril
Assim nasceram
as minhas poesias sem rima, quase prosa, tão cheias de dor
Como uma forma
de recobrar ou incitar o equilíbrio, perdido em memórias
Refiz a história, assim não fosse, seriam momentos esquecidos,
descartados
Não teria lugar para nós ou para que vivêssemos em nós
um novo romance
Só vale a vida
que brota das paixões sinceras e devem
ser intensas e vívidas
Ou seremos recipientes
estéreis, um brilho sem rumo, uma pegada na areia
Não seremos felizes apartados no vasto oceano de nossa
própria existência
Tendo o
magnífico horizonte à frente, mas sem ter
com quem compartilhar
Disso eu bem
sei, já fez parte da minha história, um mito numa memória vã
São novos dias
e esperanças deste grande armazém humano de lembranças
Como poeta eu
vi a imensidão de astros-luz através de meus próprios olhos
Vi nossos
ancestrais, como minotauros, escaparem felizes de suas cavernas
Eu vivi em suas paisagens animado e as recriei deslizando tinta sobre
tinta
Vezes eu caí
só para desfrutar dos abismos ou das águas geladas dos mares
Vezes eu voei
para experimentar a liberdade dos pássaros, o calor dos céus
Nunca invisível,
nunca cálido, porque ser cálido é próprio da mediocridade
É o que serei
até expirar a matéria, lentamente, do
prelúdio até a cena final
No final quando indagarem, vou parafrasear Neruda, vou confessar que
vivi.
Ler "vc" é refletir sobre os prprios sentimentos.
ResponderExcluirAdorei.
Bjs