Não sei se é da luz os múltiplos caminhos que me levarão
a ti
Anuncia o vento sul que sopra
pela porta aberta para a noite
Com um quê de amargo e o outro de segredos neste
deserto
A parte amarga vem da solidão
que há nos infernos da alma
E é como o cão que uiva,
insistentemente, à própria sombra
No segredo, guarda um fio de
luz e fala do amor e do vinho
Está na essência dos caminhos
de regresso. Infinda procura
por soluções no cansaço de
andar pelo tapete das ausências
O que chamamos de mundo vai pouco
além de nossas casas
Até a fronteira abalizada na sombra das chuvas vespertinas
O dia vem e o sono persiste
nestas noites quase indormidas
Nas quais semeei no verso, palavras coalhadas de
esperança
Queria que viesses saltando faceira de um dos meus
sonhos
Onde bailas mágica, enlouquecida e outonal. Onde
te espero
despida de virtudes, iluminada pelo engenho febril
do vinho
Porque não vens qual a chuva
e te debruças sobre meu corpo
Algumas vezes, me solto nas asas de suposições
improváveis
No silêncio do papel onde formulo o mistério do
amanhecer
Derramo o vinho que brindei a muitas partidas
imperdoáveis
E ainda que amanheça, permanece
a pulsar um súbito anseio
Vontade de chegar ao horizonte antes que o sol o
preencha
Sigo dois pássaros anônimos
como que abandonados no céu
Sinto-me num trem de outrora que foi deserdado dos
trilhos
Quase morto de silêncio, fumegando solitário nas planícies
Na alma do poeta, amar é sinônimo de perder-se
pelos amores
Ver em áridas paragens trigais dourados a se
dobrar ao vento
Sobreviver a todas as esperas sob o fulgor do sol
do meio-dia
Cavalgar o vento, vadio, no
perfume frio dessas flores de maio
Dominar o tempo para traduzir o sussurro fulgurante
da brisa
Mesmo que só haja a terra estrugida, crestada pelo
abandono
Reinvento o verbo no coração vivo, digo a palavra sentimento
Porque resisto à luz, ao
vento, dentro do peito, na seda da pele
Mas, o que posso eu contra as duras memórias de
meus fantasmas
insepultos que sempre regressam tanto nas horas da insônia
quanto, e principalmente, da solidão?
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