segunda-feira, setembro 24

Do bem e do mal


O chão vermelho, de barro, não guarda resquícios do passado
Mas há estradas que guardam toda a desilusão, todo martírio
São as quais devemos nos esquivar, não gravar nossos rastros
Cuidando não cair em abismos alheios que não nos pertençam

Feche portas e janelas, se os quadros não nos dão a atmosfera
Dos idílios amorosos e sem resistir a qualquer traço de pudor
Há vazio no quarto, é só uma intensa angústia por preencher

A maré o leva longe e conduz essa viagem pelas ondas do mar
Ainda assim não diga adeus ou apague a chama da esperança
Não conserve remorsos das águas passadas por seus moinhos
Pois o que move a vida é o rio interior e não teorias sombrias

Nem mesmo a profecia notória dentro da garrafa que flutua
A garrafa vai de encontro ao rochedo e a nua transparência
Vai ao fundo sem contar com uma mão piedosa que lhe salve

No céu a brisa desfia as nuvens muito lá acima dos rochedos
O coração do poeta, amante, visionário, vê a cena de soslaio
E lhe parece uma sereia, seu corpo nu, recostada nas pedras
Nada sempre é como parece e é difícil resistir-lhe ao cântico

Sorver da aguardente como quem saboreia em taças de ouro
O mundo resumido apenas em néctares divinais, sem agruras
Amar intimamente, mesmo aquilo que pode esconder a morte

Muito ao longe, onde já não brilham as lâmpadas, o céu sorri
Retinto de azul pelo luar, derramando estrelas pelo caminho
Não reprime o ânimo para recolher os versos dispersos no ar
E, cinicamente, fazê-lo sem receio, tanto do bem como o mal

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