quarta-feira, outubro 17

Paz Provisória


Beira a um mês que o inverno se despediu da periferia de mim
O sol brilha sobre a estrada que sigo para encarar o inacabado
Para resgatar tudo o que há de ser trazido de volta ao centro
Minhas retinas filtram quão de luz exceda no cenário ao redor
O silêncio devora os minutos, na certeza que os sons logo vêm
Veloz, contudo sem desespero, sigo ao encontro das respostas
Nunca é fácil explicar o que se sente, mas, é fato que se sabe
Certo que a vida tem um quê de feroz e um quê de borboleta
Sigo entre acordes de violino, através de caminhos mais ermos
Digo que a vida é curta e o que vale é a paz, embora provisória
Nos esticamos, dobramos, para usufruir alguns momentos dela
Diante de todo um azul que cobre o horizonte, cristalino azul
É quando sou pássaro e a paz vem a mim, que rumo ao poente
Que vai, primeiro, se tingindo de dourado por alguns instantes
Então a paisagem se revigora em cores que adquirem novo tom
Os dias passarão e um dia retornará abril, a anunciar o outono
Nem tudo pode fazer sentido sob o relógio sonolento da noite
Violetas, rosas, cravos e gerânios agonizam pelas alamedas frias
Esperando que o sol, com seu fulgor, lhes restabeleça a beleza
Dá corda ao despertador impregnado pela solidão dos amanhãs
Quando soubemos que o róseo algodão doce, não é de algodão
Foi então que irrompeu um vento antigo troando encolerizado
Que, cheio de dedos, arranca as flores, que se negaram a abrir

Quisera, até pelo arrasto da rima, arrancasse também as
 dores, motivado pelo fascínio de alguém por este singelo poema

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