terça-feira, dezembro 11

Mística


Nada se fazia desigual naqueles dias de um janeiro angustioso
A noite avançava naufragada no oblívio dos tempos distantes
Carregada de queixumes e mágoas ocultos no cálice de cicuta
Mas eis que, no meu abandono habitual, surge sem algum aviso
Um ser angelical – ou seria um demônio – permeando pelo caos
Filha do silêncio e quietude vã, do éter que remanesce infindo
De formas esguias, pele lívida, branda, de cabelos como trigais
O verde de seus olhos de jade bastaria a arrebatar todo mortal
Da fusão dos matizes preciosos por trás de seus cílios sedosos
A candura de seu rosto fulgia tal um buquê de violetas ao luar
Seus lábios entreabertos sussurravam segredos a me embriagar
Flor do oriente oculta e mística que brincas com minha lucidez
Toque uma música para mim em tua lira e me abrigue desta dor
Enfeitiça-me docemente no teu perfume de sedução e mistério
Enquanto adormecemos no embalo das notas fugazes da paixão
Repousa infinita nos meus braços, sem pressa, sem medo, sem falta
Estenderei minhas asas para velar pelos sonhos de tão bela musa
E do livro dos magos ancestrais, vou conjurar encantos e poções
Pois vem, do íntimo da alma, caminhar juntos à margem dos lírios
Vem desbravar este mundo imponderável, iluminar todas sombras
Vencer a frieza, a amargura. Riscar do dicionário a palavra saudade
Para que num átimo, já não estejamos aqui, nesta natureza singela
Sejamos, juntos, a imagem viva de todos verões, entre o som e a fúria
Sonhos e delírios, alçando voo à imensidão, tateando a eternidade

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