Os signos da noite, entre
sombras adensadas, em meu voo interior
Ocultam bem mais que meu eu
fugitivo pelas cavernas do silêncio
Sou a voz calada e solitária náufraga no abismo
obscuro do pensar
Nesse calar do pensamento, como turbilhão, o drama
se apresenta
E a mesma terrível dor que me trespassa a alma,
fere meu coração
Em meio ao pranto das criaturas
da madrugada na sua triste rotina
No rigor dessa nostalgia, vejo tantas vidas que se fazem de
mágoa
Que aos gritos de suas bocas frenéticas não surge a compreensão
Apenas angústia, em ritos desconexos, perturbados qual um surto
Lágrimas febris em meio a tudo, fustigadas pelo triste vento
norte
A noite vem me envolver em seu seio negro e eu a tudo só observo
Para atravessar a quietude
das horas e seu tiquetaquear profundo
Olho pela janela à distância, a cidade segue afundada em seu
sono
Acompanho as poucas luzes que acendem, a imaginar o que fazem
Que vida levam os seres por
trás do movimento de acende e apaga
Alguma dessas pessoas seria sua metade? A pessoa de seus sonhos?
Quais segredos e mistérios que a imensa dimensão da noite reserva
Aquela com quem sonho, sem
saber, pode estar bem diante de mim
Tantas e quantas indagações
repercutem em eco aos meus ouvidos
A dor de uma saudade se
denuncia em grossos cordões de lágrimas
Mas saudade do quê? Não é
real. Qual é a saudade do que não foi?
Creio seja imaginação. Por buscar por alguém que fosse igual a ela
Achando assim que pudesse estar
ali, legitimamente diante de mim
Quiçá apenas pouco desigual, por conta do manto opaco da noite
Tantas vezes meu olhar se perdeu no horizonte, mas sem enxergar
Arrastado ao olho da tormenta que crepita áspera e hostil pelo
ar
É a semente de uma irreparável ausência que teimou acompanhar
Ao longo dos anos, roubando o alento, o fogo, impondo disfarces
Um dia, porém, retomei o esplendor do voo imortal do amanhecer
Para me permitir saber que a vida não ocultará por trás do sonho
Sei que tudo foi real, mas os dias seguem e importa abrir
clareiras
Para que se possa ser feliz como a água
fresca a descer das colinas
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