quinta-feira, dezembro 13

Signos


Os signos da noite, entre sombras adensadas, em meu voo interior
Ocultam bem mais que meu eu fugitivo pelas cavernas do silêncio
Sou a voz calada e solitária náufraga no abismo obscuro do pensar
Nesse calar do pensamento, como turbilhão, o drama se apresenta
E a mesma terrível dor que me trespassa a alma, fere meu coração
Em meio ao pranto das criaturas da madrugada na sua triste rotina

No rigor dessa nostalgia, vejo tantas vidas que se fazem de mágoa
Que aos gritos de suas bocas frenéticas não surge a compreensão
Apenas angústia, em ritos desconexos, perturbados qual um surto
Lágrimas febris em meio a tudo, fustigadas pelo triste vento norte
A noite vem me envolver em seu seio negro e eu a tudo só observo
Para atravessar a quietude das horas e seu tiquetaquear profundo

Olho pela janela à distância, a cidade segue afundada em seu sono
Acompanho as poucas luzes que acendem, a imaginar o que fazem
Que vida levam os seres por trás do movimento de acende e apaga
Alguma dessas pessoas seria sua metade? A pessoa de seus sonhos?
Quais segredos e mistérios que a imensa dimensão da noite reserva
Aquela com quem sonho, sem saber, pode estar bem diante de mim

Tantas e quantas indagações repercutem em eco aos meus ouvidos
A dor de uma saudade se denuncia em grossos cordões de lágrimas
Mas saudade do quê? Não é real. Qual é a saudade do que não foi?
Creio seja imaginação. Por buscar por alguém que fosse igual a ela
Achando assim que pudesse estar ali, legitimamente diante de mim
Quiçá apenas pouco desigual, por conta do manto opaco da noite

Tantas vezes meu olhar se perdeu no horizonte, mas sem enxergar
Arrastado ao olho da tormenta que crepita áspera e hostil pelo ar
É a semente de uma irreparável ausência que teimou acompanhar
Ao longo dos anos, roubando o alento, o fogo, impondo disfarces
Um dia, porém, retomei o esplendor do voo imortal do amanhecer
Para me permitir saber que a vida não ocultará por trás do sonho

Sei que tudo foi real, mas os dias seguem e importa abrir clareiras
Para que se possa ser feliz como a água fresca a descer das colinas


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