quinta-feira, março 7

Nada mais

Oh memória, o que não me deixas ver que guardo sem saber
Quais são essas folhas que o vento forte não pode arrastar
Porque de tudo apenas resta uma indelével imagem funesta
A marcha compassada das horas traz angústia, não consolo
Toda vez que a hora do sono se aproxima, também batalhas
Que não basta vencer se os tambores rufam até amanhecer
O acordar não traz arrependimentos, nem deixa revelações
Entre as lutas profiro orações de improviso, sob as estrelas
Castelos desmoronam bem diante da ponta da minha lâmina
A lembrança sólida da percepção de um abraço me percorre
Numa recordação remota das pinturas coloridas de outrora
Agora só a parede, marcada de pregos onde não há quadros
Percorro inquieto, corredores enfeitados de retratos mortos
Visto uma máscara ao acaso para que a sorte diga quem sou
Estradas amarelas, paralelas e vazias onde eu sou tudo que há
Cães uivam para a lua rompendo o silêncio entre os destroços
Na curva da noite, silêncio que me sufoca, mas finjo não ver
Amanhã, o sino chamará os fiéis à missa, onde irão alienados
Com sua fé permeável, para comentar das pessoas à sua vista
Sob o olhar de cristal das tão eminentes estátuas dos santos
Enfrento meu tapete de ausências, mas não encontro o sono
Espio os trilhos que se estendem pelas estepes noite adentro
Lá estão os trens, que carregam toda dor, em seu isolamento
Cantada nos versos antigos, que me devora até o amanhecer
Que me sufoca em espasmos que rasgam o silêncio em cinzas
Não há hora como a da morte, que chega num lapso da visão
Em seu abraço frio e sólido, sem indagar de arrependimentos
Para alguns haverá doçura nesse abraço, sofrer chega ao fim
Não mais surpresas, desilusões, não mais abandono, nada mais
Descemos a ladeira sob escombros sem saber o fim da descida

Um comentário:

  1. Nao se deixe abater. Enfrentar os desafios diários são dádivas de Deus. Saibamos enfrenta-los

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