sexta-feira, março 12

Chegaste

 Chegaste depois que vida percorreu tantas curvas e veredas

Mas, enfim que chegaste para desfazer as presenças antigas

Ocultadas pelo pó cego de uma arcaica noite que carregava

Move-se dentro de mim uma paixão, qual um animal irascível

Caminhando sempre cá e lá entre as sombras de meus sonhos

Em busca dos esparsos íntimos minutos que são nosso esteio

 

Viverá na esperança de renascer nesses belos minutos do amor

Da troca de olhares, da permissão de olvidarmos nossas idades

Resgatando a adolescência onde tudo é simples para a paixão

Mesmo cavalgar cavalos marinhos pelas tempestades que vêm

Até dizer eu te amo, ainda quando nada parece fazer sentido

E nos sentimos qual uma nuvem perdida boiando no horizonte

 

Chegaste quando a vida já gravou mil cicatrizes na minha pele

Mas, enfim que chegaste para me permitir olhar ao outro lado

Talvez sorrir, ainda que minha estrada se margeie de espinhos

Para ousar arvorar-me fora das cinzas do tempo, te dar a mão

Ver que o destino gravou teu nome nas pedras do meu caminho

Para que eu siga sem me perder, sem jamais temer os fantasmas

 

Se nada é como se esperava ser, este amor urgente sobrevive

A esgueirar os olhos entre estrelas deserdadas, pulsar febril

Onde os sóis foram dilacerados em palavras roucas ao vento

Num mundo que devaneios cegos preenchem a tarde amarga

Toda música foi trocada pelo silêncio que me cerra os lábios

Mas a palavra certa resiste, solitária, neste coração de poeta

 

Chegaste para que eu escreva a última palavra noturna do desejo

No vento do outono que virá, em breve, a soprar as folhas mortas

 

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