segunda-feira, maio 30

Se

 Os silêncios terríveis da noite, da qual se substancia

Entre a ampla quietude, minha insônia é a substância

Que me recordará do que fiz, o que deixei por fazer

Espelhando em mim um timbre incômodo de angústia

Exibindo tais irreparáveis cadáveres do meu passado

Nenhum do que foi feito, mas do que restou a fazer

 

Poderia ser tão diferente noutra dimensão ou tempo

Noutra vida algures, onde os mortos ainda são vivos

Na loucura de conjecturar porque prá lá, não prá cá

O que seria irmos acima e não abaixo, o sim ou o não

Como seria se o poema fosse feito de outras palavras

Haveria outro hoje se tivesse existido outro ontem?

 

Na noite de terríveis silêncios, a falsidade incomoda

Vivemos no curso da vida a ilusão do tempo-espaço

No decorrer dos dias não guardamos as lições, mas

Apenas tolices cruas desse acervo de quinquilharias

Que não nos torna primores ou evita o frio do medo

Só a poesia, tola anciã, nos dará anoréxica salvação

 

Os versos do poema, o lado desconhecido da cidade

Nada nos pertence, nosso é o ar sob o véu da noite

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