quinta-feira, outubro 20

Epitáfio #18

 
Em silêncio
Olhos fechados
Mãos cruzadas
sobre o peito imóvel
A meu redor
Os vivos em arco
Não sou mais a carne
Não há mais pressa
Não haverá a batalha
A cortina fechou-se
O rio segue seu curso
 
No canto da boca restou um pedaço de vocábulo.

quarta-feira, outubro 19

O Circular

Caminhei entre girassóis de sonho e as tormentas pela cidade
Em meio às chuvas dessa primavera fria travestida de outono
Vi no espelho da noite, mofado de ausências uma flor exilada
Alucinado, sonhei em silêncio os pesadelos da vida e da morte
 
Enquanto apreciava as belezas ao avesso da cidade iluminada
A mostrar essa realidade que sangra, qual um ônibus circular
Um coletivo na sua viagem pela periferia, a balançar destinos
A balançar o sangue triste, os rostos amanhecidos de miséria
 
Indo e vindo entre incessantes misérias e as mãos estendidas
Enquanto alguns acima bem voam, o céu sob as constelações
Remoto demais para ver que outros lutam pelo cálcio da vida
Entre o gozo e o medo que essa distância seja intransponível
 
Não olvide que a pedra qual estamos é uma entre incontáveis
E ocupamos o que é, na realidade, o espírito de toda a criação
Que dialética poderia haver e justificar essas tantas diferenças
Entre esta umidade gris de cá e os invernos serenos de acolá
 
Quando os dias, em trajes de frio, ficarão mais macambúzios
A poesia não vai reduzir a distância entre março e setembro
Nem o poema irá, com palavras escancaradas, diminuir a dor
Mas faz saber, tristemente, que é tanto escrito e pouco se lê
 
Como podemos, com estes versos, amar em toda sua pureza
de vinho e sangue e salvar o coração ao final das madrugadas?


segunda-feira, outubro 17

A Busca

Sabes que te persigo pelas esquinas deste mundo
As noites são à tua busca, viver sem ti é não viver
Se sem ti não há vida, nem mesmo se pode morrer
Restando-me ser prisioneiro do silêncio e do vazio
 
Contigo eu, sem pretensão, sonho até sem dormir
No amanhã é o lugar onde irei poder te encontrar
No teu belo rosto se espelha a beleza de tua alma
Tua voz é o violão reencordoado para meu prazer
 
Persisto, pois sei que num momento tu vais surgir
Como o sol sempre surge depois das tempestades
Qual o céu vem sempre azul por traz de todo gris
 
Se não vens, todas as portas do mundo se fecham
E nada além de equívocos cobrirá os céus e terra
Vou sempre te buscar, gritar teu nome: liberdade 

domingo, outubro 9

Inocênciq

O poeta afinal está morto?

A lâmina afinal caiu e o levou?

Empatia? Inocência? Empática inocência

A ferida do amor sangra para sempre

Um sonhador e seu vinho, mas sem rima

Deixou-se caminhar pelo inferno

Restou um último verso. O perfeito

Olhe o que afinal se tornou

Não quero mais lágrimas

Não quero a mesma canção

Teria meu coração acertado?

Ainda que seja apenas uma vez

Uma cachoeira azul turquesa

Que nadávamos nas águas com o luar

Ouvi seu nome e era saudade

Mate-me ou me cure

Estarei onde você disser