quinta-feira, outubro 1

Eclipse



Será da natureza dos poetas possuir a força e a ousadia?
Digo-lhes ser cogente uns bons instantes de insanidade
Nem se poderia olvidar dar-lhe uma pitada de sarcasmo
Mas reina mais que tudo tenha em seu peito um eclipse!
Na calada da noite o poeta carrega arcanos inconfessos
Assim como a lua oculta carrega sons, signos e mistérios
Ter no peito um eclipse é não lhe tocar o que não é sonho:
O frio, as janelas fechadas e ruas vazias como cemitérios
As paredes desconsoladas, nuas de quadros não pintados
De onde brilhe a luz efêmera de um já cansado candeeiro
Ter no peito um eclipse é vencer o torpor que há em tudo
É sorrir da chuva que, fria, chega em algazarra no telhado
É poder reafirmar a promessa, à distância, só com o olhar
Apreciar a melodia do corpo da amada sem saber seu nome
Ter no peito um eclipse é se ver dois quase desconhecidos
Face ao horizonte a brincar, íntimos, com as ondas do mar
É o sol a cumprimentar=lhes a ousadia, rasgando as nuvens
É ter coragem de crer no milagre e não voltar a cabeça atrás
Pois é natureza do poeta que a esperança lhe tome as mãos
Para que a siga, indiferente aos olhares das gentes à espreita
E seguir, mãos dadas, sem importar onde se poderá chegar

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