terça-feira, outubro 27

Outubro



Desde os mais ácidos tempos de pós abril
Quando escrevi com os olhos em lágrimas
Estes poemas que emergem tão soturnos
Nestas noites de insônia do meu cotidiano
Que o luzeiro urbano encobriu as estrelas
De qual brilho são só lamentos silenciosos
Nuvens como esculturas singram ao vento
Dando ares de estar ao alcance das mãos
Porém efêmeras e distantes como o sonho
Que se faz sonhar e que não se concretiza

Outro outubro finda nesta estrada só de ida
Em que tudo parecia pequeno e intemporal
Mas afinal houve a tua chegada inesperada
Ao tocares meu coração, com um só gesto
Tornastes dias cinzas em tardes ensolaradas
Forjando um sentimento muito maior que eu
Que prospera não devagar como a sequoia
Mas intenso e arrebatador qual um tornado
Mostrastes que tu és o meu lugar no mundo
E tua ausência um amargo no fundo da alma

Então escrevo porque és encanto e doçura
Estou só, mas não sinto que estou sozinho
Estou só, contudo nunca eu estive tão vivo
A noite, companheira de prantos e estrelas,
Não mais me precipita na escura melancolia
Penso nos teus olhos, sou ora teu guerreiro
Sou teu amado, sou quem te ama, teu amor
Sou o oleiro a esculpir o barro da existência
Predizemos que nos pertencemos, sem dizer
Sentados à beira mar, o sol se pondo, rubro


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