quinta-feira, agosto 18

Das Horas



Como saber da hora assinalada no terrível escuro lá fora
Que pudéssemos atravessar a rua na certeza que não há
Por cima de nosso ombro esquerdo o espreitar da morte
Como saber a hora que fora dos relógios ou calendários
Nos desse salvo-conduto para cruzar na agrura dos dias
Para viver livre dessa dor incurável que veio da infância
Como saber qual é dessas horas que restou nas manhãs
Onde se desfez no negro veludo noturno o que era amor
Para ser apenas a angústia, um silêncio, um vazio abissal
Como saber qual seria a hora de resgatar um quê de azul
E a memória inda guarde o bálsamo do campo e do vinho
Sorvido na avidez amarga da vida sonhada, mas não vivida
Como saber qual a hora no turvo espelho que nos reflete
Que ainda guarde um brilho antigo ainda que já distante
Entre os rudes rastros que o tempo nos acumula na face?
O amor não dorme ou se disfarça: ou reina ou não existe!
É como o vento da tarde que sopra um perfume no rosto
Momentos anônimos residentes de uma breve esperança
Estilhas recolhidas da vida secreta de quando se era alado
Mas tudo passa, mesmo a noite e seus incêndios de amor
E todas as promessas serão esquecidas na face das horas
Um dia olharás para trás e só restou a certeza que é tarde
Nessa hora virão as lágrimas perdidas a trilhar pelo rosto
Cobrar pelo amor que se jurou, mas não se permitiu viver
Pelo carinho negado e ter preferido ter razão que ser feliz
É que para amar por um segundo, na mais plena verdade,
a vida, nessa hora, te requer a entrega de uma eternidade!

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