O poema é o palco letrado onde o poeta encarna seu
personagem
Pronto para queda livre no
deserto de sentimentos inconfessáveis
Para que a ribalta
alfabética não me engane qual um delírio febril
Dói, mas desato-me da
servidão que mata a fome, mas não a culpa
Que mata a sede tão
uniforme, mas não pronuncia o nome à mesa
Eis-me só uma alcunha por
falar-lhe ao dia em tom de quase prece
Que
desafia aos invernos insólitos, minha parte ave, livre, revolta
Nestes versos de margens lineais, teço a ilusão de parecer
normal
Porque fora deles, no mundo
real, é tudo tão desigual entre iguais
Nem há alento em qualquer
quarto de hora do ponteiro analógico
Qual sentimento repartir, como tergiversar obstáculos
insistentes
Como nos esquivar da morte que se levanta, como não
perder a fé?
Sim, o ideal seria não mais
lembrar, reescrever o livro à sua metade
Sejam estas letras, hoje;
nascidas no cerne dos pensamentos lassos
Impende não sejamos um alvo
parado, mas estar um passo adiante
Embora seja invisível e
somente avistado de outro lugar do espaço
Para trescalar o fulgor que
havia em um certo lugar das memórias
Herança de gratidão, por
saber que na lápide não está o teu nome
Resguardo algumas imagens do oblívio no templo das recordações
E a outras que já foram poemas, abro-lhes a gaveta da indiferença
Resguardo algumas imagens do oblívio no templo das recordações
E a outras que já foram poemas, abro-lhes a gaveta da indiferença
Deixo que esvaneçam sem
resistência no cais de onde parti de vez
Represento no palco da vida o roteiro que a vida me tatuou na alma
Represento no palco da vida o roteiro que a vida me tatuou na alma
Posso até revelar um certo
desencanto, levemente no canto da boca
Mas por grave que seja, sou
grato bastante para dançar a noite afora
No ritmo das palavras
vívidas a brilhar no orvalho perfulgente do dia
Se sempre amanheci sonhos sépia e, outros tantos, com data vencida
Se sempre amanheci sonhos sépia e, outros tantos, com data vencida
Ela e eu acordaremos de tais
sonhos coloridos, balsâmicos e infinitos
A seu
tempo terás sob as estrelas meu corpo desnudo para abraçares
E dances comigo, para
assombro geral da plateia, um tango à antiga
Mais que unidos, fundidos, amantes,
amigos.
Adorei.
ResponderExcluir"Represento no palco da vida o roteiro que a vida me tatuou na alma."
A mais pura verdade.
Somos o que se fixa na alma.