segunda-feira, dezembro 16

Dos poemas




Queria te escrever um grande poema
do tamanho e à altura de tua
existência em mim naqueles
momentos em que o relógio
inclemente transbordou instantes de
eternizada espera. Uma longa espera
como a de quem aguarda a terra
lavrada germinar

Não um poema que tenha suas raízes
nas palavras, em que frases ocas
sejam seus troncos e a gramática sua
seiva. Deve ser algo maior, pois se
destina a uma rara flor deste
hemisfério banhada de límpidas
auroras e cabelos dourados.

Um poema que seja como um sol,
inaugurando vermelho uma realidade
de pura cor e efêmeros ventos, que
deixe a névoa suspensa de teus olhos,
nas miragens do possível. Um poema
real, que toque teu coração mais que
nas palavras exatas e articuladas.

Mas o poema assim não se faz dessas
horas ociosas nem surge da decisão
elaborada de fazê-lo; por vezes o
poema vem de amargas safras que
adentram pela madrugada insone e
sem glória, numa noite solitária, além
da consciência, entre a música e a ira.

Esse poema é só teu e nele te
reconhecerás, princesa, pois será
como um canto que paire no ar e
preencha a manhã de domingo de
calor, mesmo no décimo andar. Será
como o fogo que alimenta a emoção,
mas não a queima.

Queria poder te dizer nesse meu
poema de um amor de cristal que
ilumina a vigília de desejo que meu
canto vença barreiras, posto que és a
rosa que ele tenta captar na
plenitude de todas formas mesmo
que sejas, ainda, mais essência que
presença.

Diríeis que esperavas o mestre
ponderado, mas no íntimo sabes que
é o poeta que te ama com insana
intensidade quem de fato desejas.

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